Carne de Onça de Curitiba recebe Indicação Geográfica
A tradicional carne de onça, prato típico dos bares curitibanos, conquistou recentemente o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Esse selo atesta a origem e a qualidade do produto, vinculando-o diretamente à cultura e à história de Curitiba.
Sebrae-PR e a Associação Amigos da Onça (AAOnça) iniciaram o processo de obtenção da IG ainda em 2023. A iniciativa que envolveu a elaboração de um dossiê detalhado, que incluiu a caracterização do prato, sua história e a relevância cultural para a cidade. A consultora do Sebrae/PR, Márcia Giubertoni, destacou a importância do engajamento dos empresários locais no processo, facilitando a documentação necessária para a proteção da carne de onça.
Como é a Carne de Onça?
A carne de onça é preparada com carne bovina crua, geralmente patinho moído, temperada com sal, pimenta-do-reino e azeite de oliva. O prato leva fatias de broa de centeio, cobertas com cebola branca e cebolinha picadas. Apesar de lembrar o steak tartare francês ou o hackepeter alemão, a carne de onça possui identidade própria, com tempero mais robusto e o uso generoso de cebola crua.
O ritual de serviço feito em alguns bares também ajuda na fama do prato. O garçom mistura a carne e os temperos na frente do cliente, na própria mesa.
O nome curioso do prato teria origem na década de 1940, nos bastidores do Britânia, time de futebol da cidade. Insatisfeito com uma refeição, um dos jogadores soltou a piada: “essa carne é tão bruta que nem onça come”. Desde então, o nome pegou e se tornou marca registrada da iguaria.
Em 2016, a Lei Municipal 14.928/2016 reconheceu a carne de onça como Patrimônio Cultural Imaterial de Curitiba. Desde 2014, é celebrado anualmente o Festival de Carne de Onça, promovido pela plataforma Curitiba Honesta, que reúne diversos estabelecimentos da cidade oferecendo variações do prato. Também foi eleito um dos dez melhores pratos com carne crua do mundo, de acordo com o ranking do portal europeu de gastronomia TasteAtlas,
O reconhecimento da IG fortalece a identidade gastronômica de Curitiba e valoriza a tradição local. “A carne de onça é um orgulho de Curitiba e este pedido de concessão da indicação geográfica irá reconhecer a importância deste prato, ajudando a valorizar ainda mais as tradições, a história e a cultura da capital”, disse o prefeito Rafael Greca na época da entrega do pedido da IG em 2023.
Repercussão
Segundo a Associação Amigos da Onça, mais de 200 bares e restaurantes oferecem hoje a carne de onça na capital. “Essa é uma vitória coletiva. Menos de dois anos depois do início do processo, já temos o reconhecimento do INPI. Isso mostra a força do prato e da nossa cultura”, comenta Márcia Giubertoni, do Sebrae/PR.
Nos botecos, o movimento já começou a mudar, segundo matéria publicada no site da prefeitura de Curitiba. No Bar do Dante, a carne de onça, antes servida só às quintas, entrou no cardápio diário. “O pessoal pede cada vez mais. Agora tem todo dia e está vendendo bem”, conta Dante Manfron, entre uma rodada e outra.
Para Délio Canabrava, dono do tradicional CanaBenta, o sucesso tem nome e sobrenome: autenticidade curitibana. “É o prato mais procurado, chama a atenção dos turistas e tem história. A IG só confirma aquilo que a gente já sabia: essa iguaria é nossa, e é especial”.